Jerusalém, se houvesse apenas uma palavra para descrever esta cidade seria: especial! Acho que este é o sentimento que se leva quando se deixa a cidade como eu estou fazendo hoje: que este é realmente um lugar muito especial.
Considerada uma cidade sagrada pelas três principais religiões abraâmicas: Judaísmo, Cristianismo e Islã, a fé é o elemento mais presente no espírito da cidade. Mesmo para aqueles que não vêm como peregrinos, mas apenas como turistas, não podem escapar desse vestígio, ele está em toda parte.
Passei 10 dias em Jerusalém. Fiquei em um lugar no Morro do Escândalo, junto ao Monte das Oliveiras, com uma excelente vista da cidade e uma caminhada relativamente curta até a Cidade Velha.
Devido ao fato de que eu não sabia que teria essa vista privilegiada, quando cheguei, fui direto tirar minha foto da chegada na área do Muro das Lamentações. A vista também era boa, mas para chegar lá foi bem duro, já que eu tive que enfrentar muitas escadas. E se é difícil descer as escadas com uma bicicleta bem pesada, eu não preciso dizer como é voltar. Mas, pelo menos, consegui a foto.
O último lugar que eu visitei em Jerusalém foi o lugar onde tudo começou: a cidade de Davi.
A cidade de Davi é uma pequena colina, ao sul do Monte do Templo, e é onde o rei Davi estabeleceu a capital do seu reino, há três mil anos, quando conquistou a cidade que ali existia. Hoje é uma área residencial e sítio arqueológico, o lugar mais escavado no mundo.
Lá eu fiz um fascinante tour guiado, que entre outras coisas, nos leva a atravessar o túnel de Ezequias. Um túnel ou aqueduto, construído pelo rei Ezequias 300 anos depois do rei Davi, cujo principal objetivo era desviar a água da nascente (do lado de fora da cidade) até o tanque de Siloé, quando na iminência de um cerco à cidade, como descrito na Bíblia.
Cruzamos os 500 metros do túnel, escavado em rocha sólida, com a água, às vezes, passando dos joelhos e, claro, completamente fascinados com o que foi, para aqueles tempos, uma proeza de engenharia: duas equipes de escavação partindo de cada extremidade do túnel até se encontrarem no meio.
Todo lugar que você visita em Jerusalém é um lugar especial, com raízes históricas ou religiosas. E como eu disse, no lugar onde fiquei era a uma curta distância a partir do Monte das Oliveiras, o que para mim foi muito especial visitar.
O Monte das Oliveiras é mencionado na Bíblia como sendo um lugar onde Jesus costumava passar bastante tempo, ensinando e descansando. Ao pé do monte há um local chamado Getsêmani, de acordo com a Bíblia, o jardim onde Jesus estava com os seus discípulos na noite em que foi preso. Lá eu vi oliveiras milenares, por tradição, consideradas como as testemunhas silenciosas das orações e angústia de Jesus na noite anterior à crucificação.
Eu não consigo descrever o quão fantástico é ter a oportunidade de estar em tais lugares, mas, em Jerusalém, você tem esse sentimento a toda hora e ele nunca termina.
Visitar a Cidade Velha era quase meu programa diário. O local, uma área murada com menos de um quilômetro quadrado, é dividido em quatro áreas: o bairro muçulmano, o bairro cristão, o bairro judeu e o bairro armênio. Você nunca se cansa de andar em suas ruas estreitas, cheias de feiras, lojas e, é claro, peregrinos e turistas.
Há cerca de 40.000 pessoas vivendo na Cidade Velha (de um total de 800.000 em toda Jerusalém). Você encontra muitos mosteiros, instituições educacionais e hotéis. Mas os lugares mais visitados são os locais religiosos sagrados.
Para os judeus, é o Muro das Lamentações, considerado o que sobrou do Templo dos judeus. Para os cristãos, é a Igreja do Santo Sepulcro, que se acredita ser o lugar onde Jesus foi crucificado, e para os muçulmanos é o Domo da Rocha, considerado pelos muçulmanos como sendo o lugar onde o profeta Maomé subiu aos céus.
Em dias diferentes, visitei todos os três.
Quando visitei o Muro das Lamentações, onde por respeito os homens são obrigados a ter a cabeça coberta, deixei como é o costume, um pedaço de papel (com o nome da minha família) nas fendas do muro.
Visitando o Monte do Templo, conheci uma família brasileira de muçulmanos do Rio Grande do Sul. Eu fico sempre feliz em encontrar brasileiros e ainda mais quando se trata de conterrâneos. Os não-muçulmanos só são autorizados a entrar no Monte do Templo em horário específico e por uma entrada especial junto ao Muro das Lamentações. Uma vez dentro, se pode andar por toda a área, mas não entrar nas mesquitas.
Esse também é um local sagrado para os judeus, já que é onde ficavam os Templos Judeus. Acredita-se ser também o lugar que a Bíblia descreve como o Monte Moriá, onde Deus pediu a Abraão que sacrificasse seu filho Isaac.
Foi só, quando visitando a Igreja do Santo Sepulcro, local considerado pelos cristãos como sendo o lugar onde Jesus foi crucificado e sepultado, que me senti confortável o suficiente para questionar a autenticidade daquele lugar. Eu acredito que tudo ocorreu como descrito na Bíblia, mas para mim, falando de lugares bíblicos, é sempre muito difícil acreditar em locais específicos quando não são localizações geográficas.
Um rio, um lago, uma montanha, ou um monte são lugares que, mesmo depois de séculos ou milênios, você pode saber com certeza que são os mesmos lugares. Mas como saber com certeza que lugares como aqueles são autênticos, quando não há nada que possa provar, apenas a tradição?
Ainda assim eu visitei os dois lugares em Jerusalém, considerados por diferentes grupos, como sendo o lugar onde Jesus foi crucificado e sepultado: a Igreja do Santo Sepulcro e o Jardim da Tumba. E mesmo que se saiba que tal lugar possa não ser o local verdadeiro, você fica muito impressionado quando pensa na ideia de que também possa ser.
Preferi dar mais atenção ao que aconteceu naqueles dias, e ao grande significado que aquilo teve, do que onde especificamente aconteceu.
Na parte moderna da cidade, apenas rodei de bicicleta, o que já é um grande programa. Eu poderia ter visitado muitos outros locais ou ter feito muito mais durante o tempo que passei aqui, mas até mesmo deitar na grama de um parque, ou sentar à sombra dos muros da Cidade Velha, apenas observando as pessoas que passam, já são também ótimos programas. Tudo que você faz em Jerusalém se torna um grande programa quando você lembra onde está.
Estou muito grato por ter tido a oportunidade de viver esta experiência incrível, algo que eu nunca esperava ou pensava que poderia acontecer.
Hoje eu digo adeus à Cidade Santa e com isso encerro minha passagem por Israel, mas não na Terra Santa, agora sigo pedalando no lado Palestino.
Então, simbora..