Eu sempre prometo que será a última vez até que acontece de novo. Estou falando sobre a minha má gestão com viagens, sempre fui horrível em organizar uma partida, e quando se trata de uma viagem dentro de outra viagem as coisas ficam ainda piores.
Não perdi meu voo de Atenas para Tel Aviv só porque era meu dia de sorte. Mesmo meu voo estando marcado para 22:40, consegui chegar atrasado ao aeroporto. Tendo tantas coisas para fazer naquele dia, acabei saindo para o aeroporto 3 horas após o que era minha previsão otimista, e graças a Deus, pude levar minha bicicleta no metrô. Chegando ao aeroporto, eu ainda tinha que organizar minhas coisas, desmontar parte da bicicleta e embrulhá-la.
Adivinha o quê? Eu quebrei todos os meus recordes, para um voo que estava marcado para 22:40 cheguei ao balcão para fazer o check-in às 22:15, a atendente não conseguia acreditar que meu voo era para Tel Aviv, ela disse: "você está atrasado. Você está MUITO atrasado". Eu estava tão nervoso que única coisa que conseguia fazer era rir.
Após todos os procedimentos, respirei aliviado no meu assento junto à janela, e às 23:15 o avião estava decolando para um voo de 1:35min até Tel Aviv.
Enquanto contemplava Atenas iluminada vista do alto, pensava sobre minha viagem e como tudo na Europa, desde Amsterdam tinha saído como planejado, e quão feliz e agradecido eu estava por isso. Era hora de encerrar este capítulo e começar um novo, com outros desafios para esta aventura.
Chegando a Israel, dormi no aeroporto e no dia seguinte remontei minha bicicleta e fui para Giv'atayim, uma cidade ao lado de Tel Aviv, onde tinha um anfitrião do CouchSurfing esperando por mim. Lá dormi três noites, durante o dia, ia de bicicleta desfrutar a praia e pedalar por Tel Aviv.
Deixando Giv'atayim , meu plano era chegar à Nazaré, mas no lugar em que eu parei para dormir, Bat Shlomo, ouvi sobre os jardins Bahá'í em Haifa, que eu achava fossem em Jerusalém. No dia seguinte mudei minha rota e segui para Haifa.
Meu chefe no Brasil era Bahá'í , e ele tinha na parede do escritório um quadro dos jardins Bahá'í, e então você vê como a vida é uma caixa cheia de surpresas e loucuras, eu sempre admirei aquela foto nunca em minha mente imaginando que um dia eu iria ter a oportunidade de visitar tal lugar. Obrigado vida louca, o dia tinha chegado!
Dormi dois dias em Haifa , tive anfitriões do CouchSurfing lá também, visitei os incríveis jardins Bahá'í (um local sagrado para os Bahá'ís) e pude aprender mais sobre a fé Bahá'í.
Quarenta quilômetros depois, e eu estava em Nazaré, cidade onde Jesus cresceu, lá dormi três noites em um mosteiro francês, as freiras me trataram muito bem , até mesmo me alimentando. Como sei que instituições como essas não são hotéis grátis, onde você chega, come e sai, eu sempre me ofereço para ajudar com alguma coisa, uma forma de agradecer tal hospitalidade. E lá ajudei colhendo uvas e limpando canteiros de tomate.
Juntamente com uma senhora francesa , eu estava ajudando uma freira da Costa do Marfim, que vive lá já há 13 anos, ela disse que este mundo é realmente muito pequeno, um tempo atrás, ela leu em um jornal católico sobre o meu encontro com o Papa, e agora lá estava eu, como seu assistente .
Estar em Nazaré foi uma experiência especial, a cidade é mencionada na Bíblia como sendo o lugar onde anjo Gabriel visitou a Virgem Maria para anunciar o nascimento de Jesus, e também o lugar onde Jesus passou sua infância. Visitei a Basílica da Anunciação e pedalei pela cidade, sempre imaginando se Jesus teria andado nas ruas em que eu estava pedalando.
Deixando Nazaré fui para o Mar da Galileia, um outro lugar especial mencionado na Bíblia. É chamado de "Mar" mas na verdade é um grande lago. Neste ponto, eu decidi que não estaria usando internet ou procurando lugares para dormir, eu acamparia ao redor do lago e desfrutaria do silêncio e da experiência de estar nesses lugares tão especiais.
Lá visitei Cafarnaum, cidade onde Jesus e alguns de seus discípulos viveram e onde ele realizou muitos de seus milagres. Cafarnaum é agora um sítio arqueológico, mas não mais uma cidade, você pode visitar as ruínas da cidade, que incluem os restos de uma sinagoga do século 4, construída sobre as ruínas da sinagoga onde Jesus ensinava, a capela construída onde antes era a casa de Pedro, e chegar até as margens do Mar da Galiléia. Ao lado há uma propriedade pertencente à Igreja Ortodoxa, com uma bela igreja para visitar, e ao lado desta o Parque Nacional de Cafarnaum, que eu só soube que era um parque nacional, no dia seguinte, quando eu já estava saindo e também li que acampar naquela área era proibido. Ops, já um pouco tarde demais!
Eu descrevo meu acampamento em Cafarnaum como a noite mais especial desta viagem, nada ao redor, o mar da Galiléia à frente, iluminado por uma lua cheia maravilhosa, e eu me perguntando se esse era o cenário quando Jesus andou sobre aquelas águas .
Em seguida acampei dois dias na outra margem do lago, onde só descansei e nadei, e completei o trajeto em Tiberíades, onde acampei e passei o meu último dia num parque aquático.
Naquele parque algo interessante aconteceu, eu deixei minha bicicleta com os seguranças na entrada e só levei uma mochila com minha câmera, então perguntei a algumas senhoras se eu poderia deixar o minha mochila com elas, enquanto eu estava na piscina, elas concordaram e quando fui pegá-la de volta, elas perguntaram de onde eu era, quando disse Brasil ficaram surpresas e imediatamente me pediram para sentar, me deram algo para comer e disseram que alguém na sua família era casada com um brasileiro, a quem ligaram imediatamente.
Ele não era apenas brasileiro, mas um conterrâneo gaúcho, da cidade do Chuí. Quando soube que eu estava saindo de Tiberíades para Jerusalém, ele me convidou para parar na sua cidade, a menos de 40 km de lá. Como eu poderia dizer não? A cidade era Beit She'an, e lá dormi dois dias. Ele e a família de sua esposa, uma família palestina bem grande, me trataram com tanta hospitalidade que me deixaram sem palavras. Pessoas incríveis!
Deixando de Beit She'an segui para Jerusalém, acampando em Mansura, Elyashiv e Ben Shemen.
Agosto é considerado o mês mais quente em Israel, e eu esperava enfrentar dias complicados, mas felizmente, não foi tão difícil quanto eu pensava. Pedalei no calor, mas nada diferente do que eu havia enfrentado na Grécia ou na Itália. A diferença era mais quanto a estradas, não há muitas opções, na maioria das vezes eu estava viajando em estradas movimentadas ou mesmo em autoestrada.
Israel é um país moderno, às vezes eu esqueço que não estou mais na Europa (especialmente falando de preços). E diferente do que eu estava esperando, não é apenas em Tel Aviv que o progresso chegou, até mesmo as cidades bíblicas, hoje em dia não diferem muito de cidades em que estive na Europa ou no Brasil. E também quanto à segurança, posso dizer que me sinto estando no velho continente, sei sobre os movimentos do exército e da tensão com a situação da vizinha Síria, apenas pelo noticiário, porque o país está (pelo menos até agora) muito tranquilo.
No próximo post escreverei sobre Jerusalém, pois eu ainda estou visitando a cidade santa.
Shalom!