Como eu sabia que meu encontro com o Papa seria algo simples e informal, pensei que apenas minha família e amigos ficariam sabendo e, talvez o jornal de Porto Alegre fosse publicar uma foto, enviada por um dos meus amigos, mas eu estava errado. Na mesma tarde, o Vaticano divulgou um artigo escrito pela pessoa que eu descrevi aqui como sendo meu guia na Casa Santa Marta. Ele era um jornalista e depois de deixar a Praça de São Pedro, almocei com ele e uma mulher.
Vários jornais publicaram a história, eles juntaram o artigo do Vaticano com partes do que eu havia escrito aqui. Para mim foi engraçado ver como a mesma história pode ser contada de muitas maneiras diferentes.
No Brasil, onde o Papa estava sendo esperado, também se falou a respeito. Não só o jornal de Porto Alegre escreveu sobre isso, mas a Folha deu destaque na capa, e no dia em que o Papa chegou ao Brasil a rádio CBN me acordou às 12:30, para participar do quadro "Papo de Viajante". Eu já estava de volta à minha vida "normal", por isso falei com eles de dentro da minha barraca. (você pode ouvir aqui)
Nos dias seguintes recebi um monte de e-mails e mensagens bacanas de pessoas de todo o mundo. Muitos deles vindo das Filipinas, o que me surpreendeu, pois não sabia que o catolicismo era tão forte lá.
A reação das pessoas começou a mudar a forma como eu vi aquele encontro. Mesmo eu não sendo católico, fiquei muito contente pela oportunidade que me foi dada de viver essa experiência incrível, e eu já estava grato por isso. Mas a forma como as pessoas foram vendo e escrevendo sobre isso, realmente me tocou. Eu não apenas respeito sua fé, mas de certa forma sinto-me um pouco constrangido, quando sei que há milhões e milhões de pessoas para quem tal experiência teria tido muito mais importância e significado.
Para mim, não teve nenhum significado espiritual, mas é com certeza uma experiência que eu vou sempre lembrar. Serão sempre boas recordações.
Se há algo que eu não lembrarei como boa recordação é o que eu não fiz em Roma. Cheguei a Roma com a ideia de descansar um pouco, organizar a continuação da minha viagem, consertar minha bicicleta e, claro, visitar uma série de locais históricos.
O "Plano Papa" me tomou tempo e energia, antes e depois de acontecer. Eu dormi 10 noites em Roma e sai com a sensação de que eu só tinha passado um fim de semana lá. Mesmo o Coliseu, que era um grande sonho visitar, eu só pedalei ao redor.
Mas pelo menos o Vaticano conheci bem. Visitei a Basílica de São Pedro, sempre muito lotada, tive que esperar uma hora na fila para poder entrar. Uma construção impressionante, com maravilhosas obras artísticas. O que mais me surpreendeu foram as pinturas, ou o que parecem ser pinturas, uma vez que são todos mosaicos de peças muito pequenas, que substituíram as pinturas originais. Do alto da cúpula você tem uma bela vista de Roma.
Também visitei os Museus do Vaticano, uma enorme coleção de arte, acumuladas pela Igreja Católica ao longo dos séculos. Com a cereja do bolo sendo a Capela Sistina, que é o lugar onde ocorre a eleição de um novo papa, lá se contempla os afrescos de Michelangelo, Botticelli, Perugino entre outros.
Em Roma fiquei hospedado em um mosteiro Checo, arranjado pela freira sobre quem escrevi aqui no post da República Tcheca. Pensei que eles não me hospedariam por mais do que alguns dias, assim eu dormiria lá algumas noites e depois encontraria alguém do CouchSurfing, mas para minha surpresa, eles me ofereceram ficar o tempo que eu precisasse. Fiquei tão agradecido que me ofereci para ajudar no jardim, e trabalhei lá algumas vezes.
Deixei Roma no mesmo dia em que o Papa Francisco. Ambos estávamos indo para o Brasil, a diferença é que ele já chegou lá e voltou, e eu ainda estou a caminho.
Deixando Roma meu objetivo era atravessar para a outra costa, até Brindisi. Pensei que seria muito mais difícil e levaria muito mais tempo, devido ao fato de que havia uma área montanhosa que inevitavelmente teria que cruzar. Felizmente, não foi tão difícil e os únicos problemas que tive foram com o vento e partes da estrada onde não eram permitidas bicicletas.
Quanto mais ao sul chegava, mais simpáticas as pessoas se tornavam. Já estava acostumado a ouvir os carros buzinando me cumprimentando, as pessoas surpresas com minha bicicleta vindo falar comigo, e fazendo aquelas perguntas sobre a minha viagem, que já respondi milhares de vezes, mas sempre adoro repetir. E foi muito mais fácil encontrar lugar para dormir ou acampar nas igrejas (mesmo eles não sabendo sobre o Papa). Até Roma, só o que ouvia dos padres era "Não".
Em uma cidade chamada Cerignola, o padre era bem incomum, não apenas gente boa, mas eu diria que não tão tradicional, parecia que os jovens da igreja dividiam o "poder" com ele. Eles foram muito gentis comigo, fomos todos visitar uma cidade vizinha em que estava tendo uma festa, com muita música e comilanças. Foi ótimo.
Isso é o que eu acho mais incrível nessa viagem, não se precisa de muito tempo para criar entre mim e as pessoas que eu encontro uma boa conexão, e depois de um tempo é como se já fossemos velhos amigos.
Eu não posso escrever aqui sobre todas as pessoas que conheci e as experiências que eu tive, mas os levo para viajar comigo, na minha bandeira, nas minhas fotos e memória.
Acabei não escrevendo sobre Veneza, Pisa e outros lugares incríveis que visitei na Itália, mas também foi ótimo e eu prometo falar sobre isso na próxima vez em que nos encontramos para um café.
Esta é a minha rota completa na Itália: Muggia, Portogruaro, Veneza (Mestre), Rovigo, Bologna (Casalecchio di Reno), Pistoia, Pisa (Madonna Dell'acqua), Castagneto Carducci, Preselle, Montalto di Castro, Roma, Velletri, Terracina, Caserta, Ariano Irpino, Cerignola, Bari, Ostuni e Brindisi.
E depois de ter pedalado cinco semanas na bela Itália, hoje digo adeus e obrigado ao tempo maravilhoso que passei aqui. Ao fim do dia pego o barco para a Grécia, meu último país na Europa.
Então, simbora..