A travessia da Itália para a Grécia levou cerca de 16 horas. A balsa saiu de Brindisi em torno de 20:00 e chegou à Patras às 13:00, hora local (a Grécia esta uma hora afrente do horário da Europa Central). Eu estava muito animado, não só porque era uma experiência nova, o primeiro país a que eu estaria chegando sem pedalar minha bicicleta por terra, e também porque essa seria minha primeira vez em alto-mar.
Como companheiros de embarcação eu tinha mais de uma centena de carros, caminhões e, claro, um mundareu de gente. Você pode dormir em sua própria cabine, se pagar mais por isso, mas se você é alguém como eu, disposto a economizar, então a única regra é: encontre o seu lugar!
As pessoas que escolhem esta opção não se preocupam com o conforto, eles dormem em qualquer lugar. Quando cheguei ao navio ele já estava infestado de sacos de dormir e camas improvisadas. Na parte externa, até barracas se via. Eu não tive dúvida, peguei minha cabine 5 estrelas e fui achar um lugar para armá-la.
Antes de me acomodar na barraca fui visitar o capitão, com a intenção de oferecer-lhe alguns conselhos no caso de que ele precisasse. Infelizmente, ele estava fazendo uma "pausa", mas seu assistente me deixou entrar, foi muito gentil e ainda me deu o comando do navio. Mas como não queríamos acordar na Espanha, ele tomou de volta, assim que tirei minha foto.
E como eu já era quase um membro da tripulação, resolvi armar minha barraca perto da ponte de comando, não só porque não havia pessoas dormindo ali, mas no caso de algo dar errado com o navio, minha barraca seria um lembrete para que as instruções fossem algo do tipo: mulheres, crianças e ciclistas primeiro!
Bem, num primeiro momento, a coisa estava OK, eu estava bem instalado na minha barraca, desfrutando da brisa refrescante e o fantástico céu estrelado. Depois de um tempo, quando eu já estava cochilando, as coisas começaram a mudar. O que antes era uma brisa refrescante tornou-se um ventinho persistente, e quando entramos em alto-mar, o ventinho persistente tornou-se um inferno.
No começo eu até ri da situação, mas quando eu me vi deitado com os braços abertos segurando a barraca, porque estava tremendo muito, a risada desapareceu. Como sou uma pessoa bem teimosa, demorou um pouco para me convencer de que aquela "brisa refrescante" não iria parar tão cedo.
Quando minha barraca e eu já estávamos de saco cheio daquele terremoto, decidi que era hora de embrulhar tudo e encontrar outro lugar. Me mudei para o outro lado do navio, mas para evitar surpresas eu decidi só usar meu saco de dormir e deitar numa cadeira de praia. Boa escolha desta vez!
Chegando a Patras, eu dormi uma noite lá e no dia seguinte iniciei minha pedalada rumo a Atenas, que não ficava mais do que 250 km de lá.
Em Patras eu tive um anfitrião do CouchSurfing. Em sua casa já havia uma austríaca. Ela está viajando pela Europa de carro por mais de um ano. E sozinha! Para mim é sempre um prazer encontrar este tipo de pessoas e compartilhar nossos pontos de vista sobre os diferentes mundos que estamos vendo.
Deixando Patras levei três dias para chegar a Atenas. Acampei em Kamari, Kineta, e passei por Corinto, a cidade para qual o apóstolo Paulo escreveu uma de suas cartas. As temperaturas foram sempre em torno de 35 graus, por isso na parte da tarde eu sempre parava minha bicicleta e ia desfrutar o mar. Na Itália, eu fiz isso com um pouco de pressa, decidi não mudar a bermuda que estava usando, pois estava muito quente ela secaria bem rápido depois. Ainda na água, comecei a sentir algo no meu bolso: era o meu celular vibrando e anunciando sua aposentadoria. Cacildis!!
Chegando a Atenas eu encontrei outro viajante gente boa. Fui direto para a Acrópole para tirar a foto "oficial" de chegada, e quando eu estava pronto e deixando o local, vi um ciclista chegando. Claro que eu iria falar com ele, mas quando ele chegou mais perto, percebi que já o conhecia. Nós nos conhecemos em Roma, na Praça de São Pedro, e foi a mesma coisa, eu estava saindo da praça (sem bicicleta), quando vi ele chegando e fui falar com ele.
Ele é da Alemanha e está pedalando de lá para Israel, onde ele vai pegar um avião de volta para casa. Tivemos uma rota muito semelhante: deixaríamos Roma, cruzando para a outra costa, pegaríamos a balsa para a Grécia e de Atenas voaríamos para Israel.
Mesmo ele saindo de Roma antes de mim, eu cheguei a Atenas (alguns minutos) antes dele. Ele pegou a balsa de um lugar diferente e chegou à Grécia mais ao norte, tendo que enfrentar uma área montanhosa até Atenas. E eu vinha de Patras para Atenas. Tive uma estrada plana sempre junto ao mar.
Já conheci muitos viajantes de bicicleta. Gosto de parar e conversar com eles, mas para viajar eu prefiro viajar sozinho. Todo mundo tem uma maneira diferente de fazer a mesma coisa, e porque eu sou um pouco louco, às vezes, faço coisas na vida de uma maneira diferente, e acabam dando certo. Mas tendo apresentado uma opinião diferente sobre a situação, me faria mudar de ideia ou talvez não fazer o que, do meu ponto de vista (louco,) é a coisa a ser feita.
E nesta viagem as principais diferenças que eu tenho com outros viajantes é o meu baixo orçamento e minha política de como usar o dinheiro. A regra número um desta viagem é nunca pagar para dormir, mesmo em campings. Quando eu não consigo encontrar um anfitrião do CouchSurfing (se você não sabe o que é o CouchSurfing clique aqui) eu tento dormir em uma igreja, se não consigo encontrar um lugar para dormir com o pessoal da igreja, então acampo. Nestas 13 semanas, só paguei no meu primeiro dia, porque já há um monte de incertezas quando se inicia uma viagem deste tipo, e eu não queria mais uma, então eu tinha reserva num Bed and Breakfast, mas no meu segundo dia eu já conhecia a brincadeira, e aí minha barraca já estava esperando por mim. Quando saí de Praga, devido às inundações e toda aquela situação, por questões de segurança paguei para o acampar num camping.
Em Atenas eu tinha um anfitrião do CouchSurfing esperando por mim, mas por falhas de comunicação, quando cheguei lá, ele não estava em casa, e porque eu não tinha como ligar e nem acesso à internet, depois de esperar por muito tempo, decidi iniciar a "Operação Igreja".
No mesmo bairro, encontrei uma Igreja Ortodoxa, depois de alguma luta com a comunicação, eles me permitiram acampar no jardim, uma vez que não tinham nenhum lugar onde eu pudesse dormir ou até mesmo tomar um banho.
Tomei um banho de mangueira e depois de ter a minha barraca pronta, sai para comer alguma coisa. Felizmente, o lugar tinha WiFi, assim eu li a mensagem de meu anfitrião e expliquei-lhe o que tinha acontecido, dizendo que não tinha problema, que eu acamparia em uma igreja naquela noite e no dia seguinte iria para a casa dele.
Eu não disse em qual igreja estava, mas depois de 1 hora e meia, quando eu já estava deitado na minha barraca, eu ouvi meu nome ser chamado, era meu anfitrião vindo para me buscar. Eu achei aquilo muito bacana da parte dele, mas como eu já estava pronto para dormir e acabaria levando algum tempo para desmontar tudo, ir para sua casa, tirar tudo da bicicleta e subir até seu apartamento, pedi para dormir na barraca naquela noite. Ele concordou e me deu a chave de seu apartamento, já que estaria saindo muito cedo no dia seguinte.
Eu posso dizer com certeza que este é o mais gentil e generoso anfitrião que alguém vai encontrar no CouchSurfing. Ele também estava hospedando dois rapazes franceses e, quando saiu de férias, dois dias atrás, ele nos disse que poderíamos ficar em seu apartamento o tempo que quiséssemos. Isso não é apenas algo muito gentil, mas também muito incomum para o mundo em que vivemos hoje.
Eu só comprei minha passagem para Israel, quando cheguei a Atenas. Eu não queria ter, durante toda a minha viagem, a pressão de uma data para chegar aqui porque tinha um bilhete reservado. Mesmo que eu soubesse que acabaria pagando mais, e foi o que aconteceu.
Eu estava planejando passar mais uma semana na Grécia, talvez até mesmo visitar outras ilhas, mas o preço da passagem seria o dobro se eu não pegasse esse voo barato que encontrei para esta noite.
Infelizmente, não tive muito tempo para desfrutar a maravilhosa Grécia, mas pelo menos consegui passar algum tempo em Atenas, visitei a Acrópole (parada obrigatória) pedalei pela cidade e passei algumas horas rodando em um ônibus turístico.
E hoje digo adeus não só a Grécia, mas também a Europa, este é o final da fase europeia desta aventura. Amanhã vou começar a parte mais desafiadora da minha viagem: o Oriente Médio.
E eu estou muito animado. Como eu escrevi aqui no meu primeiro post, o Oriente Médio foi o que trouxe a ideia para esta viagem, então vamos lá!
Não vou temer coisas que não são para mim. O que tiver que ser, será, tem sido sempre assim. E eu sei que eu tenho a companhia e proteção Do grande amigo, e também o apoio de bons amigos e as pessoas que estão viajando comigo através da internet.
Então, vamos logo descobrir o que esse novo mundo nos reserva.