Quando deixei Berlin, minha meta era chegar em Dresden e levei 3 dias pra chegar lá. Acampei dois dias: um dia em Baruth e outro em Lauchhammer. Em Lauchhammer recebi uma visita durante a noite, havia alguns veados (em português tenho que ressaltar que é no real sentido da palavra kkk...) alguns veados caminhando ao redor da minha barraca, eu queria vê-los, mas assim que perceberam meus movimentos, foram-se embora.
Em Dresden, tive alguém do CouchSurfing para me hospedar, que foi inclusive um grande guia, me mostrando a cidade de bicicleta. A cidade é realmente bonita, com um monte de lugares interessantes para visitar.
Durante a segunda guerra mundial, Dresden foi severamente bombardeada pelos aliados, quando mais de 25.000 pessoas morreram, e grande parte da cidade foi destruida ou danificada. Hoje em dia é difícil encontrar um prédio que não tenha marcas daqueles dias obscuros.
Dresden foi minha última parada na Alemanha, e após dormir duas noites lá, marchei rumo a Ustí nad Labem, meu primeiro destino na República Tcheca.
A distância não era grande, mas o que fazia a coisa ficar feia era a chuva e o terreno montanhoso dessa área de fronteira. Alcancei 700 metros de altitude, o que com bicicleta não é brincadeira, e a neblina e o frio não fazem a coisa ficar nenhum pouco melhor.
A Holanda é completamente plana, a Alemanha, ao menos pela área onde pedalei, também não estava mal, e quando encontrava alguma subida mais dura, sempre descia da bicicleta e ia empurrando até em cima, mas aqui não podia fazer o mesmo, se não teria empurrado a bicicleta a tarde toda.
Mas às 17:15 estava atravessando a fronteira e lá pelas 18:00 já estava em Ustí nad Labem. Para chegar até Ustí, tive que descer centenas de metros, o que parece ser um bom negócio, mas não é, quando se carrega tanto peso e a estrada está completamente molhada, por conta disso, ao fim do dia quase não tinha mais freio na bicicleta.
Em Ustí pretendia dormir uma noite, mas meus anfitriões do CauchSurfing eram tão boa gente que fiquei duas noites.
No dia seguinte cheguei a Melnik, onde algo muito irônico aconteceu. No perfil do CauchSurfing a pessoa escreve suas preferencias pessoais, coisas que gosta de fazer, tipo de pessoas que gosta de conhecer e etc.
Não consigo lembrar porque escrevi aquilo, talvez para ser engraçado ou realmente útil, mas escrevi que entre as coisas de que não gosto, estão cobras. Tenho pavor.
Pois é, ou a vida é realmente muito irônica ou meu anfitrião não leu meu perfil quando aceitou meu pedido, porque tive que dividir o quarto de hóspedes com uma cobra (sim, uma cobra) e, embora não fosse venenosa e estivesse num vidro, ainda assim era uma cobra.
Minhas duas opções eram: enfrentar a cobra ou encontrar um lugar pra acampar. Decidi a favor do banho quente e da cama confortável. E mesmo que não conseguisse esquecer que havia uma cobra no recinto, tive uma boa noite e deixei Melnik sem nenhuma briga com a colega de quarto.
40 km depois estava na bela Praga, onde dormi 5 noites. Sol definitivamente é uma palavra que não poderei associar com o tempo que passei lá. O tempo estava horrível, chovendo todo dia. O que acabou colocando a cidade em estado de emergência, com muitas partes alguns metros abaixo d’água. Havia muita tensão quanto ao nível do rio Vltava, que poderia repetir o que aconteceu em 2002, quando transbordou deixando o metrô completamente abaixo d’água e a cidade um caos. Desta vez não foi assim tão ruim, e eles estavam melhor preparados, mas ainda assim três pessoas morreram.
Em nenhum momento estive em perigo, estava numa área segura longe do rio, em um apartamento bacana. Todas essas coisas ruins eu apenas vi pela TV e em fotos na internet. Mas mesmo com chuva foi possível visitar todos os pontos mais importantes da cidade.
A cidade, é claro, mesmo molhada é fantástica, com seus prédios históricos, castelos, igrejas, torres e pontes. Mas o que mais lembrarei de Praga (além da chuva) são as pessoas bacanas que encontrei lá. Primeiro minha anfitriã (e não é porque eu sei que ela irá ler isso kkkk...) mas preciso dizer, foi uma grande anfitriã e uma pessoa maravilhosa. Ela é francesa mas mora em Praga há mais de 20 anos, como ela mesmo disse: “foi amor a primeira vista“, na verdade parece mais brasileira do que francesa. Ela hospedou uma outra pessoa do Brasil, dois anos atrás, e uma coincidência interessante é que a menina também era de Porto Alegre.
O segundo encontro marcante foi com Jenny, minha professora de inglês em Amsterdam. Ela é do Reino Unido e desde o ano passado mora em Praga. Jantamos juntos e batemos um bom papo tomando uma cerveja tcheca (minha primeira cerveja em séculos, já que eu tomo apenas vinho)
Deixei Praga do mesmo jeito que cheguei lá: com chuva. E por conta do mau tempo não ser apenas em Praga, com enchentes em várias partes da República Tcheca, estava um pouco preocupado, não sabendo o que enfrentaria, especialmente por não ter conseguido encontrar ninguém do CouchSurfing em Benesov, e teria que acampar lá. Felizmente encontrei ao redor um camping com instalações, e pude acampar em segurança.
No dia seguinde pedalei até Pelhrimov. Eram apenas 62 km, mas ao final do dia eu estava morto, por conta do terreno montanhoso. Não tinha lugar pra dormir, mas graças a igreja Católica da cidade, dormi numa cama confortável.
Ontem consegui pedalar 80 km, também um terreno acidentado, mas não tão ruim. Cheguei a Moravske Budejovice, minha última parada na República Tcheca, e também sem lugar pra dormir (isso tá virando rotina kkkk...)
Dessa vez fui mais abençoado, além da cama, ganhei uma bela janta e pessoas agradáveis para conversar. O padre da paróquia falava apenas tcheco, mas havia uma gentil jovem freira, que foi minha tradutora. Na cozinha, uma senhora muito simpática, que rapidamente esquentou minha janta. Uma sopa deliciosa, um prato Tcheco e um bolo de sobremesa.
Comi sozinho, com duas senhoras esperando que eu terminasse (já estavam prontas para irem pra casa) e a jovem freira sentada comigo, traduzindo minhas histórias. Ela até me deu alguns contatos, onde posso ficar hospedado em Roma.
Por isso é que gosto de pessoas simples: quando a senhora ouviu que irei a Roma, disse pra eu não esquecer deles quando estiver na “terra santa“ . Imediatamente deixei a cozinha, voltei com minha mochila e disse: claro que não vou esquecer de vocês. Dei pra elas assinarem minha bandeira do Brasil (meus amigos na Holanda e todas as pessoas que conheço pelo caminho estão assinando essa bandeira) elas assinaram a bandeira e tiramos uma foto juntos.
Mais do que uma cama, ou comida grátis, mas pequenas coisas que realmente me tocam.
Hoje (06/06) digo adeus à Republica Tcheca. Ao final do dia já estarei na Austria, e o que menos importa é onde as estradas me levarão, já que tudo é parte desse magnífico sonho que, graças a Deus, estou tendo a oportunidade de estar vivendo.
Então simbora..