Se alguém tivesse me dito que em quatro semanas eu pedalaria em quatro países diferentes, não acreditaria. Especialmente vindo de um país tão grande como o Brasil, onde a ideia de cruzar um país de bicicleta é realmente uma tarefa árdua. Mas estamos na Europa, onde isso pode ser feito muito mais facilmente, e aconteceu.
Minha primeira parada na Áustria seria num lugar chamado Hollabrunn, mas o CouchSurfing às vezes associa pessoas de uma área ao redor de uma cidade como sendo parte dessa cidade, e foi assim que, tentando achar um lugar pra ficar em Hollabrunn, acabei em Füllersdorf, uma vila muito pequena com apenas 120 habitantes, 10 km de Hollabrunn.
E tenho que dizer que adorei a escolha. Foi a primeira vez que fiquei numa vila tão pequena, e também a primeira vez em que estaria ficando com uma família. Meu anfitrião morava com seus pais e uma irmã, e eram todos muito boa gente.
Visitei sua vinha doméstica, provei do vinho e tive um dia muito relaxante andando entre animais, natureza e na vila. Com o que fiquei surpreso foi que em uma vila tão pequena, consegui encontrar duas pessoas (sem relação uma com a outra) que já moraram no Brasil. Se você pensar numa vila de 120 pessoas, numa remota área da Áustria, encontrar duas pessoas que moraram no Brasil é realmente incrível.
Ao fim da tarde fomos ao "Heuriger", que é algo bem típico da região, um tipo de restaurante ao ar livre. Não é um restaurante convencional, mas onde produtores de vinho servem comida e vinho produzido por eles mesmos. Com meu anfitrião, sua família e outros locais que estavam conosco, tive, não apenas minha melhor noite na Áustria, mas uma das melhores dessa viagem. Eles eram todos muito simpáticos, engraçados e agradáveis.
No dia seguinte, parti para Viena, onde não tive muita sorte escolhendo meu anfitrião. Iria dormir quatro noites lá, mas no meu segundo dia, o rapaz que me hospedava, me acordou às 05:00 da manhã dizendo que iria viajar e que eu tinha que sair em uma hora. Primeiro pensei que fosse uma piada, mas acabou que não era uma muito engraçada.
Apesar do fato do cara ser um pouco estranho, realmente não entendi o que tinha acontecido, se eu tinha quebrado alguma de suas regras secretas ou o quê. O fato é que fiquei indignado, achei aquilo algo grosseiro e completamente incomum pro CouchSurfing. Quando você é um membro do CouchSurfing e recebe uma solicitação de alguém querendo ficar na sua casa, você aceita ou recusa, simples assim. Mas o que não se espera que você faça é recusar a solicitação de alguém quando a pessoa já está dormindo no seu sofá.
Mas às vezes coisas ruins acabam sendo coisas boas, acabei conseguindo encontrar uma anfitriã muito melhor, uma austríaca que gosta muito do Brasil, estuda português (fala muito bem) e tem uma professora que é de Porto Alegre.
Sinto muito Mozart, mas em Viena estava ouvindo música brasileira e falando português.
Embora estivesse na terra do rei da música clássica, em Viena dediquei meu tempo a contemplar a monarquia austríaca. Entre os lugares em que estive está o Palácio Imperial de Schönbrunn, que foi lar de verão dos imperadores por mais de três séculos. Local onde facilmente se faz presente a imagem da imperatriz Elisabeth, a famosa Sissi, uma imperatriz amada pelo povo, mas não tão popular entre a corte do seu tempo.
Atravessei também o Salão dos Espelhos, onde aos seis anos Mozart apresentou seu primeiro concerto à imperatriz Maria Teresa.
O tour pelo palácio também traz a imagem do imperador Francisco II, cujas intenções em alcançar influência política foram bem mais sucedidas através de alianças familiares do que guerras. Ele casou sua filha mais velha com Napoleão e outra de suas filhas, Leopoldina, casou com Dom Pedro I, tornando-se imperatriz do Brasil e mãe de Dom Pedro II, o maior político brasileiro de todos os tempos.
Também visitei o Tesouro Imperial, uma valiosa coleção de jóias, coroas e roupas, que cobre um período de mil anos de História europeia.
Terminei meu tour por Viena, no local onde Imperadores e Imperatrizes Austríacos terminaram seu tour por esse mundo: a Cripta Imperial, uma câmara mortuária abaixo da Igreja dos Capuchinhos. Ali encontram-se 107 sarcófagos de metal, com os restos mortais dos membros da Casa de Habsburgo.
Deixando Viena, acampei uma noite em Aspang Markt e passei o final de semana em Gleisdorf, minha última parada na Áustria. Lá tive a hospitalidade de anfitriões do CouchSurfing, muito engajados em questões sociais e meio ambiente. No domingo fui de trem visitar Garz, a segunda maior cidade da Áustria, não muito longe de lá.
E na intenção de evitar os Alpes e a dura área montanhosa que teria que cruzar indo da Áustria para a Itália, decidi incluir Eslovênia no roteiro, e não sofrer tanto em minha rota rumo ao sul.
Então vejamos o que a Eslovênia nos reserva..