Durante esta viagem eu já estive em vários países e tive contato com várias culturas, mas a sensação que eu tinha antes de vir para a Índia era de que chegar aqui seria como um reset, e posso dizer que realmente foi!
O desconhecido sempre nos traz medo ou nos deixa um pouco apreensivos. Eu não posso dizer que estava com medo de vir para a Índia, mas devo dizer que fiquei um pouco preocupado com o que eu realmente estaria enfrentando aqui, algo tão diferente de tudo o que eu tinha visto antes.
Felizmente posso dizer que fui surpreendido positivamente. A pobreza, injustiças sociais e sujeira eu já sabia que iria ver (e está por toda parte), o que ninguém me disse era que as pessoas na Índia me fariam sentir tão confortável e contente durante minhas pedaladas pelo país e tão impressionado com a rica cultura.
O voo de Cairo a Mumbai durou 5 horas. No aeroporto de Mumbai eu tinha um amigo do Facebook esperando por mim, que me hospedou por alguns dias. Normalmente conheço pessoas no meu caminho que depois me adicionam no Facebook, esta foi a primeira vez que a coisa tomou um caminho inverso, e que conheci um amigo virtual.
Esse amigo era um ciclista entusiasmado, que começou a seguir minha aventura desde que eu conheci na Itália aquele ciclista sul-coreano, que também estava viajando o mundo de bicicleta (que ele também conheceu na Índia). Entrei em contato com ele e ele me recebeu com prazer.
O que me chocou já no aeroporto foi o calor, eu estava esperando se não frio, ao menos um tempo mais fresco, mas não era hora ainda. E com a alta umidade de Mumbai eu me senti como se já estivesse no Brasil. Do lado de fora do aeroporto eu ainda não tinha terminado de remontar a bicicleta e já estava com minha camiseta completamente encharcada de suor.
Entre outros lugares, visitei em Mumbai o Taj Mahal Palace Hotel, cenário dos ataques terroristas de 2008 que tiraram a vida de 166 pessoas. Hoje em dia, fortemente protegido.
Três dias após chegar a Mumbai, iniciei minhas pedaladas rumo ao norte. Levaria quatro semanas e cerca de 1.600 quilômetros para chegar à capital, Nova Délhi.
Minha primeira dificuldade na Índia foi me adaptar ao trânsito caótico, e o que tornava a coisa ainda mais complicada era ter de pedalar no lado esquerdo da pista. A Índia segue o estilo britânico de dirigir. Os carros têm o volante no lado direito e o tráfego segue sempre pelo lado esquerdo.
Mas claro, assim que eu via, passando por uma cidade, um motorista local entrando na rodovia na contramão, minha primeira reação era sempre a de que ele estava certo e todo mundo errado, até que eu me acostumei com isso (e com os maus motoristas).
Algo com que eu não me acostumei, e me enlouquecia durante estas semanas, era o quanto eles usam a buzina no trânsito. Os motoristas buzinam para todos e tudo, é como uma arma de auto-defesa. Na estrada, com uma estrada de três pistas em cada sentido você até pode ter um pouco de paz, mas nas cidades, ou quando há um fluxo maior de caminhões, seus ouvidos não tem 15 segundos de silêncio.
A Rodovia Nacional 8 (NH8), que liga Mumbai a Délhi, foi minha sala de estar por estas últimas semanas, era o lugar onde todos os dias muitas pessoas, curiosas e surpresas com a minha bicicleta, dirigiam ao meu lado fazendo perguntas ou me paravam para tirar uma foto. Os indianos gostam muito de estrangeiros e ainda mais se você vem com uma louca "bicicleta-casa", eles terão todo o prazer do mundo em mostrar apreço e simpatia. E claro, não há nada melhor do que coisas desse tipo quando se viaja sozinho.
Eu me acostumei a ver os seus rostos surpresos, me cumprimentando na estrada ou quando pedalava por uma cidade. Parar a bicicleta na frente de uma loja ou supermercado era como um evento, com um grande número de pessoas rodeando minha bicicleta com olhos arregalados. Em outros países isso seria feito por duas ou três crianças, mas não na Índia, aqui os adultos eram os primeiros a vir olhar. Um dia eu entrei num lugar para comprar água (aqui o recomendável é beber apenas água mineral) e 5 minutos depois quando saí eu não podia ver minha bicicleta, estava completamente escondida entre as pessoas. Naquele dia, eu contei 33 pessoas ao redor da minha bicicleta, entre homens e meninos.
O fato de que eu era do Brasil não importava muito, aqui a palavra "Brasil" não tem o mesmo efeito que em outros países, como os indianos não gostam muito de futebol, eles quase nunca reconheciam minha bandeira brasileira, e não sabem muito sobre o Brasil. Cricket é a paixão nacional, e o país é um dos melhores, se não o melhor, no esporte.
Sofri um pouco com abastecimento, encontrar um mercado era minha eterna missão, tinha que me contentar com o que achava nas banquinhas das vilas por onde passava a rodovia. E mesmo sendo barato, comer em restaurantes estava quase sempre fora de cogitação, pela estrada encontra-se apenas restaurantes vegetarianos e com tudo sempre muito apimentado. Chegando a cidades grandes tirava a barriga da miséria. Até um McDonalds você passa a chamar de lar.
Deixei a NH8 só para visitar algumas cidades interessantes no caminho. Primeiro foi Ahmadabad, lá visitei a casa do Gandhi. O lugar onde o "Pai da Nação" viveu é hoje um museu em um complexo enorme, com muitas árvores e esquilos. Lá se pode aprender mais sobre este grande homem, que levou a Índia a sua independência do domínio britânico numa revolução pacifista.
Em Udaipur, visitei o Palácio da Cidade, um magnífico prédio do século 16, cercado por varandas, torres e cúpulas. Dos tempos em que Udaipur era a capital do reino Mewar.
Eu já estava pedalando por duas semanas tendo descansado apenas um dia, conseguia sentir os músculos das pernas já um pouco cansados, foi quando vi da estrada uma instituição católica, Missionárias da Caridade, a ordem de Madre Teresa de Calcutá. Parei lá e as freiras, muito bacanas, me hospedaram por alguns dias, me tratando sempre muito bem. Lá tive o descanso necessário. O lugar era lar para dezenas de pessoas portadores de necessidades especiais, tratados por essas seguidores de Madre Tereza.
Chegando a Jaipur eu tinha um belo quarto de hotel me esperando, e o que era ainda melhor: de graça! O proprietário tinha me parado na estrada uma semana antes, sabendo que eu passaria por sua cidade disse que lá minha barraca teria um dia de folga.
Depois de visitar Jaipur segui para Agra, trocando a NH8 pela NH2. Em Agra visitei o monumento mais famoso da Índia: o Taj Mahal. O fantástico prédio, ou "O prédio mais belo do mundo", encanta todos os visitantes não apenas pela sua fascinante arquitetura, mas também pela grande história por trás de sua construção. Construído pelo imperador Shah Jahan em honra à memória de sua amada esposa, Mumtaz Mahal, o mausoléu hoje abriga os restos mortais de ambos.
O Taj Mahal era o último grande monumento que eu tinha planejado ver nesta viagem, eu pretendo ficar mais alguns meses na estrada, mas o "trabalho" já está feito. O que vier a partir de agora é lucro.
Três dias depois de deixar Agra cheguei a Nova Delhi, e fiquei imediatamente fascinado ao pedalar por suas avenidas bem planejadas e cheias de muito verde (ao menos na área central da cidade) herança dos tempos britânicos.
Em Delhi a Igreja Católica me hospedou por alguns dias e agora estou ficando com amigos do CouchSurfing, uma família muito legal. Até agora eu só pedalei pela cidade, não tive ainda tempo para visitar nenhum local, estou lidando com questões da minha viagem e a preparação para já nos próximos dias seguir rumo ao norte, para as montanhas, mas eu pretendo estar de volta a Delhi para o Natal.
Então até breve ...
O desconhecido sempre nos traz medo ou nos deixa um pouco apreensivos. Eu não posso dizer que estava com medo de vir para a Índia, mas devo dizer que fiquei um pouco preocupado com o que eu realmente estaria enfrentando aqui, algo tão diferente de tudo o que eu tinha visto antes.
Felizmente posso dizer que fui surpreendido positivamente. A pobreza, injustiças sociais e sujeira eu já sabia que iria ver (e está por toda parte), o que ninguém me disse era que as pessoas na Índia me fariam sentir tão confortável e contente durante minhas pedaladas pelo país e tão impressionado com a rica cultura.
O voo de Cairo a Mumbai durou 5 horas. No aeroporto de Mumbai eu tinha um amigo do Facebook esperando por mim, que me hospedou por alguns dias. Normalmente conheço pessoas no meu caminho que depois me adicionam no Facebook, esta foi a primeira vez que a coisa tomou um caminho inverso, e que conheci um amigo virtual.
Esse amigo era um ciclista entusiasmado, que começou a seguir minha aventura desde que eu conheci na Itália aquele ciclista sul-coreano, que também estava viajando o mundo de bicicleta (que ele também conheceu na Índia). Entrei em contato com ele e ele me recebeu com prazer.
O que me chocou já no aeroporto foi o calor, eu estava esperando se não frio, ao menos um tempo mais fresco, mas não era hora ainda. E com a alta umidade de Mumbai eu me senti como se já estivesse no Brasil. Do lado de fora do aeroporto eu ainda não tinha terminado de remontar a bicicleta e já estava com minha camiseta completamente encharcada de suor.
Entre outros lugares, visitei em Mumbai o Taj Mahal Palace Hotel, cenário dos ataques terroristas de 2008 que tiraram a vida de 166 pessoas. Hoje em dia, fortemente protegido.
Três dias após chegar a Mumbai, iniciei minhas pedaladas rumo ao norte. Levaria quatro semanas e cerca de 1.600 quilômetros para chegar à capital, Nova Délhi.
Minha primeira dificuldade na Índia foi me adaptar ao trânsito caótico, e o que tornava a coisa ainda mais complicada era ter de pedalar no lado esquerdo da pista. A Índia segue o estilo britânico de dirigir. Os carros têm o volante no lado direito e o tráfego segue sempre pelo lado esquerdo.
Mas claro, assim que eu via, passando por uma cidade, um motorista local entrando na rodovia na contramão, minha primeira reação era sempre a de que ele estava certo e todo mundo errado, até que eu me acostumei com isso (e com os maus motoristas).
Algo com que eu não me acostumei, e me enlouquecia durante estas semanas, era o quanto eles usam a buzina no trânsito. Os motoristas buzinam para todos e tudo, é como uma arma de auto-defesa. Na estrada, com uma estrada de três pistas em cada sentido você até pode ter um pouco de paz, mas nas cidades, ou quando há um fluxo maior de caminhões, seus ouvidos não tem 15 segundos de silêncio.
A Rodovia Nacional 8 (NH8), que liga Mumbai a Délhi, foi minha sala de estar por estas últimas semanas, era o lugar onde todos os dias muitas pessoas, curiosas e surpresas com a minha bicicleta, dirigiam ao meu lado fazendo perguntas ou me paravam para tirar uma foto. Os indianos gostam muito de estrangeiros e ainda mais se você vem com uma louca "bicicleta-casa", eles terão todo o prazer do mundo em mostrar apreço e simpatia. E claro, não há nada melhor do que coisas desse tipo quando se viaja sozinho.
Eu me acostumei a ver os seus rostos surpresos, me cumprimentando na estrada ou quando pedalava por uma cidade. Parar a bicicleta na frente de uma loja ou supermercado era como um evento, com um grande número de pessoas rodeando minha bicicleta com olhos arregalados. Em outros países isso seria feito por duas ou três crianças, mas não na Índia, aqui os adultos eram os primeiros a vir olhar. Um dia eu entrei num lugar para comprar água (aqui o recomendável é beber apenas água mineral) e 5 minutos depois quando saí eu não podia ver minha bicicleta, estava completamente escondida entre as pessoas. Naquele dia, eu contei 33 pessoas ao redor da minha bicicleta, entre homens e meninos.
O fato de que eu era do Brasil não importava muito, aqui a palavra "Brasil" não tem o mesmo efeito que em outros países, como os indianos não gostam muito de futebol, eles quase nunca reconheciam minha bandeira brasileira, e não sabem muito sobre o Brasil. Cricket é a paixão nacional, e o país é um dos melhores, se não o melhor, no esporte.
Sofri um pouco com abastecimento, encontrar um mercado era minha eterna missão, tinha que me contentar com o que achava nas banquinhas das vilas por onde passava a rodovia. E mesmo sendo barato, comer em restaurantes estava quase sempre fora de cogitação, pela estrada encontra-se apenas restaurantes vegetarianos e com tudo sempre muito apimentado. Chegando a cidades grandes tirava a barriga da miséria. Até um McDonalds você passa a chamar de lar.
Deixei a NH8 só para visitar algumas cidades interessantes no caminho. Primeiro foi Ahmadabad, lá visitei a casa do Gandhi. O lugar onde o "Pai da Nação" viveu é hoje um museu em um complexo enorme, com muitas árvores e esquilos. Lá se pode aprender mais sobre este grande homem, que levou a Índia a sua independência do domínio britânico numa revolução pacifista.
Em Udaipur, visitei o Palácio da Cidade, um magnífico prédio do século 16, cercado por varandas, torres e cúpulas. Dos tempos em que Udaipur era a capital do reino Mewar.
Eu já estava pedalando por duas semanas tendo descansado apenas um dia, conseguia sentir os músculos das pernas já um pouco cansados, foi quando vi da estrada uma instituição católica, Missionárias da Caridade, a ordem de Madre Teresa de Calcutá. Parei lá e as freiras, muito bacanas, me hospedaram por alguns dias, me tratando sempre muito bem. Lá tive o descanso necessário. O lugar era lar para dezenas de pessoas portadores de necessidades especiais, tratados por essas seguidores de Madre Tereza.
Chegando a Jaipur eu tinha um belo quarto de hotel me esperando, e o que era ainda melhor: de graça! O proprietário tinha me parado na estrada uma semana antes, sabendo que eu passaria por sua cidade disse que lá minha barraca teria um dia de folga.
Depois de visitar Jaipur segui para Agra, trocando a NH8 pela NH2. Em Agra visitei o monumento mais famoso da Índia: o Taj Mahal. O fantástico prédio, ou "O prédio mais belo do mundo", encanta todos os visitantes não apenas pela sua fascinante arquitetura, mas também pela grande história por trás de sua construção. Construído pelo imperador Shah Jahan em honra à memória de sua amada esposa, Mumtaz Mahal, o mausoléu hoje abriga os restos mortais de ambos.
O Taj Mahal era o último grande monumento que eu tinha planejado ver nesta viagem, eu pretendo ficar mais alguns meses na estrada, mas o "trabalho" já está feito. O que vier a partir de agora é lucro.
Três dias depois de deixar Agra cheguei a Nova Delhi, e fiquei imediatamente fascinado ao pedalar por suas avenidas bem planejadas e cheias de muito verde (ao menos na área central da cidade) herança dos tempos britânicos.
Em Delhi a Igreja Católica me hospedou por alguns dias e agora estou ficando com amigos do CouchSurfing, uma família muito legal. Até agora eu só pedalei pela cidade, não tive ainda tempo para visitar nenhum local, estou lidando com questões da minha viagem e a preparação para já nos próximos dias seguir rumo ao norte, para as montanhas, mas eu pretendo estar de volta a Delhi para o Natal.
Então até breve ...