Um dia nessa viagem, que é cheio de empolgação, é o dia em que cruzo a fronteira de um outro país. Pela manhã já sei que esse é um "dia de fronteira" e, enquanto a linha no meu GPS vai sendo mostrada cada vez mais próxima, a empolgação de chegar de bicicleta num país em que nunca estive antes, realmente me possui. Em 8 semanas na estrada, já experimentei isso 5 vezes.
E não foi diferente quando cheguei a Eslovênia. O que foi diferente foi a dificuldade que tive para encontrar lugar pra ficar. Meu maior problema usando o CouchSurfing nessa viagem é que não posso prever onde estarei. Então acabo enviando as solicitações apenas dois ou três dias antes, às vezes um dia, ou até mesmo no mesmo dia em que chego. E pelo fato de as pessoas hoje em dia, por conta das redes sociais, não acessarem mais seus e-mails com frequencia, às vezes recebo o retorno apenas uma ou duas semanas após já ter deixado o lugar.
Eslovênia foi o primeiro país em que cheguei sem ter um lugar pra ficar em minha primeira parada, também o primeiro onde não consegui um anfitrião na capital, o que me fez partir mais sedo do que o previsto, atravessando o país em apenas uma semana.
Maribor foi minha primeira parada, e só quando cheguei lá fiquei sabendo que as pessoas para quem havia enviado solicitação não poderiam me hospedar e, pelo fato de não ter nenhuma rota planejada, não poderia continuar no dia seguinte. Estava muito cansado para acampar e já era muito tarde para tentar uma igreja. Então comecei enviar solicitações no CouchSurfing torcendo para que alguém lesse minha mensagem, e às 22:00 já estava quase desistindo. Parecia que a única saída seria encontrar um lugar para acampar e partir no dia seguinte.
Decidi aguardar somente até às 22:15. Eram 22:13 quando fechei todas as páginas e tinha somente meu e-mail aberto e, exatamente às 22:15, recebi um e-mail anunciando que um casal muito bacana tinha acabado de salvar o dia. Ah moleque, recebi aquilo como um milagre!
Dormi duas noites em Maribor, visitei a cidade e tive bons momentos com meus anfitriões.
Deixando Maribor, dormi uma noite na igreja Católica de Zalec e cheguei a Liubliana no dia seguinte, quando um feriado prolongado tornou as coisas um pouco complicadas, já que todos estavam saindo da cidade. Em três dias dormi em três lugares diferentes, tendo que acampar um dia no pátio atrás da igreja. Foi então que decidi voltar pra estrada onde as coisas estariam mais sob controle.
Antes de deixar a Eslovênia, passei em Prediama para visitar o Castelo Predjamski, um castelo renascentista construído na boca de uma caverna, e que no século 15 serviu de refúgio para o cavaleiro e barão das falcatruas, Erazem Lueger.
Acampei naquela área e no dia seginte era novamente "dia de fronteira", mas não era um dia de fronteira normal. Era a fronteira da "Bella Italia". Não consigo dizer como, desde o início dessa viagem, estava na expectativa de estar na Itália. Não apenas pelos lugares que quero visitar, mas também pela cultura e a língua de que gosto tanto.
Minha primeira parada na bela Itália foi em Muggia, uma pequena cidade ao lado de Trieste. Lá dormi duas noites. Meu anfitrião do CouchSurfing era um jornalista, uma ótima oportunidade para se ter boas conversas a respeito de tudo. Na primeira noite fomos comer pizza, para celebrar em grande estilo minha entrada na Itália. Foi muito engraçado, quando ouvi o "buon appetito" comecei a rir, já ouvi isso em tudo que é lugar, mas essa era a primeira vez em que era o "original".
No dia seguinte fui visitar Trieste, mas já cansado de caminhar o dia inteiro como turista, dessa vez escolhi relaxar e passar o dia quente na água. Era o meu reencontro com o mar após 7 anos, e agora, pela primeira vez, podendo nadar. Na Holanda, antes de começar essa viagem de bicicleta, tive algumas aulas de natação, preocupado com o fato de que estaria viajando sozinho e que em qualquer lugar que encontrasse água poderia ser perigoso. E em Trieste foi a hora de testar minhas novas habilidades. Tenho que dizer que realmente gostei.
Sabendo de minha paixão pela língua italiana, meu anfitrião me deu de presente um pequeno dicionário italiano. Tenho como regra não aceitar nada das pessoas que conheço, levo delas apenas lembranças, nossas fotos e suas assinaturas em minha bandeira, pois já carrego muito peso e não tenho lugar para mais nada, mas nesse caso decidi abrir uma exceção. Não quero sair da Itália com os mesmos "Buon giorno", "Mama mia" e "Buono appetito" com que aqui cheguei.
Deixando Muggia, tive um encontro muito bacana na estrada. Encontrei um rapaz Coreano, o Beak, que também está viajando de bicicleta. Ele começou sua viagem na Coreia do Sul e pretende encerrá-la no Reino Unido, já tendo pedalado mais de 15.000 km. Paramos por meia hora para conversar e compartilhar nossas histórias. Fiquei realmente fascinado com sua viagem. Ele assinou minha bandeira e eu assinei sua agenda. Quando nos encontramos novamente, em Veneza, parecíamos velhos amigos.
Acampei na região de Portogruaro, e no dia seguinte segui para Veneza. Sobre isso falo no próximo post..