Tuesday, March 4, 2014

Aranyaprathet - Tailândia


A fim de facilitar minha vida decidi que desta vez  não iria de bicicleta para o aeroporto, já que meu voo de Calcutá para Bangkok era muito cedo pela manhã. Chegar ao aeroporto pedalando e ainda ter de desmontar parte da bicicleta e preparar a bagagem poderia ser arriscado. Então fiz tudo no dia anterior e fui pro aeroporto de táxi.

Isso funcionou muito bem, mas digamos que nem tudo fez minha vida mais fácil no aeroporto.

Diferente da política de outras companhias aéreas,  aquela em que eu estava voando não queria considerar minha bicicleta um item extra, quando você paga uma taxa extra por estar levando algo de grandes dimensões. Eles pesaram tudo junto e queriam me cobrar o excesso.

Como eu podia levar apenas 20kg e tudo pesado deu 50kg,  imediatamente soube que isso não era algo bom. Deixei o balcão do check-in com o papel para pagar o excesso em outro local.

Quando  soube que o valor que eles queriam me cobrar era algo como 70% do preço da minha passagem a festa começou. Falamos por um longo tempo e deixei bem clara minha posição: eu não pagaria esse tanto para levar minha bicicleta comigo, isso era um absurdo! Mas o cara era inflexível dizendo que "Se" eu quisesse  levar a bicicleta comigo, eu teria que pagar isso.

Até que as coisas ficaram ainda piores  quando ele percebeu que ele estava cobrando essa quantia pensando que o excesso fosse de apenas 13 kg, mas como o excesso era de 30Kg eu teria que pagar ainda mais. Para mim isso foi a gota dagua, eu peguei meu passaporte e sai sem ouvir quanto era o valor.

Uma vez de volta ao balcão de check-in eu dei o meu passaporte para o atendente e ele perguntou sobre o papel com o pagamento. Eu lhe disse que não havia pago e não pagaria porque aquilo era um completo absurdo, era como se eu estivesse tendo que comprar mais duas passagens para a minha bicicleta.

Felizmente esse cara era mais flexível, e depois de ouvir  os meus argumentos e sobre minha viagem de bicicleta, ele me permitiu levar dois itens como bagagem de mão, com tudo o que pudesse carregar neles. Coloquei nos dois alforges o máximo que pude, mas  sabia que não seria o suficiente para evitar o excesso.

Acho que eles já estavam fartos comigo e um pouco envergonhados com a grande bagunça que minhas mochilas e eu estávamos fazendo na frente do balcão da companhia. Então o "Está OK" colocou um fim a tudo aquilo. Minha bicicleta e eu estávamos aliviados, viajaríamos juntos sem ter que pagar nada a mais por isso, nem mesmo o que seria a taxa normal.

O vôo levou cerca de duas horas. Uma vez no aeroporto de Bangkok remontei  a bicicleta e segui para a casa de minha anfitriã do CouchSurfing, a cerca de 25 km de lá, em um típico dia de inverno  de 30°C.

Isto é algo fascinante sobre a comunidade do CouchSurfing: você chega a um país onde nunca esteve antes, não fala a língua, não conhece ninguém, mas haverá alguém esperando por você, alguém com  quem você tem muito em comum: a pessoa gosta de viajar, conhecer novas pessoas e compartilhar histórias. E terá todo o prazer em hospedá-lo de graça.

Como eu viajo de bicicleta e é difícil saber com antecedência onde estarei, eu não uso o CouchSurfing com frequência, mas nas grandes cidades e lugares em que eu paro alguns dias para visitar ou descansar, eu sempre encontrei um anfitrião do CouchSurfing bem bacana.

E em Bangkok não foi diferente. Eu tive uma anfitriã bem legal que também estava hospedando outros três viajantes. Essa foi uma das minhas melhores experiências do CouchSurfing. Nós saíamos todos juntos, sempre nos divertindo e rindo o quanto podíamos. Uma bela oportunidade para compartilharmos nossos diferentes mundos. Quando deixei a cidade era como se já fossemos velhos amigos.

Apesar de toda a atenção que a crise política na Tailândia tem gerado no exterior, com os governos até mesmo alertando seus cidadãos sobre os potenciais riscos de viajar pelo país, posso dizer que fiquei surpreso com o que vi, ou devo dizer com o que não vi. Bangkok, o epicentro dos protestos parecia estar um mar de tranquilidade, com a área de protestos parecendo os arredores de um grande show, com música ao vivo e um monte de barracas vendendo comida e toda sorte de bugigangas. Eu não sabia se estava na mesma Bangkok do noticiário.

Depois de ter pedalado tanto na Índia eu realmente queria pegar leve na Tailândia, ainda mais porque  não teria tempo de ir para longas distâncias e voltar pro meu caminho rumo ao Camboja. Passei quase uma semana em Bangkok. Fiquei  fascinado com os maravilhosos templos que visitei. Fui em uma viagem de um dia com os meus amigos a Ayuttaya e deixando Bangkok fui visitar o famoso mercado flutuante de Damnoen Saduak . Lá você vê o rio cheio de barcos de madeira transbordando com frutas e legumes que são vendidos para as pessoas em terra. Não posso dizer que não é um pouco “Para turista ver”, mas valeu a pedalada.

De lá pedalei de volta por Bangkok a caminho de Laem Ngop, de onde peguei o barco para a ilha de Ko Chang, onde passei uma semana. Bangkok foi o único lugar em que eu tive onde dormir, em todos os outros lugares na Tailândia eu dormi na minha barraca 5 estrelas, e na ilha foi fantástico poder acampar na praia.

A melhor coisa que fiz em Ko Chang foi uma trilha com elefante pela mata, e no final pude nadar com os elefantes. Eu posso dizer que foi uma memorável e fascinante experiência.

O ciclismo é muito popular na Tailândia, quase todos os dias eu era cumprimentado por ciclistas tailandeses e encontrei alguns estrangeiros também viajando de bicicleta por aqui. A coisa que mais me agradou foi o silêncio das estradas, depois de ser levado à loucura pelas infindáveis buzinadas das estradas indianas eu apreciei o fato de que os motoristas aqui quase nunca buzinam.

Uma coisa engraçada era ver como os cães eram persistentes, este é  o único lugar em que estive que todo cachorro após ver minha bicicleta passar corria atrás de mim por dezenas de metros tentando tirar uma lasquinha dessa canela saborosa, felizmente posso dizer que nenhum deles foi bem sucedido.

Aranyaprathet é a minha última parada na Tailândia, daqui sigo para o Camboja. Espero um dia ter a oportunidade de visitar a Tailândia novamente, eu sei que há tanta coisa para se ver aqui, mas meu tempo não me permitiu explorar mais.

Minhas moedas me permitirão viajar por mais dois meses, de modo que Camboja e Vietnã poderão ser os dois últimos países que visitarei. Mas se o milagre que eu estou esperando vier a acontecer, o mês de maio, quando completo um ano na estrada, pode não ser o fim desta viagem, mas um reinício.

Então é esperar e ver o que esta vida louca tem preparado...